A profissÃŖo de fÊ cristÃŖ contÊm um Ãēnico nome prÃŗprio (ao lado daqueles de Jesus e da virgem Maria) que Ê totalmente estranho ao seu contexto teolÃŗgico: o do pagÃŖo Pôncio Pilatos. Figura inusitada na liturgia cristÃŖ, e segundo Nietzsche "a Ãēnica dos Evangelhos que merece respeito", Pilatos Ê o autor de frases memorÃĄveis, como "O que Ê a verdade?", "O que escrevi, escrevi" e o fastÃdico "Ecce homo, eis o homem!", pouco antes de entregar Jesus ao suplÃcio. Neste breve e contundente ensaio Agamben mostra como, no encontro fugaz entre Pilatos e Jesus estava em jogo um evento enorme e inÊdito, para alÊm do drama da paixÃŖo e da redençÃŖo. Neste encontro irreconciliÃĄvel entre o "mundo dos fatos" e o "mundo da verdade", provoca Agamben, como nunca em outro lugar na histÃŗria do mundo, a eternidade cruzou a histÃŗria em um ponto exemplar. O temporal foi atravessado pelo eterno. Desdobrando esta recÃproca perfuraçÃŖo entre os dois mundos - histÃŗria e eternidade, sagrado e profano, juÃzo e salvaçÃŖo - situada no Ãĸmago da religiÃŖo cristÃŖ que a modernidade secularizou, Agamben nos remete aos mais candentes impasses da contemporaneidade. A pergunta chave que Pilatos e Jesus desvenda Ê: por que o cruzamento entre o humano e o divino, o histÃŗrico e o a-histÃŗrico, tem a forma de um processo? E que processo Ê esse? O que Ê, afinal, um processo sem juÃzo? E o que Ê uma pena (neste caso, a crucificaçÃŖo) que nÃŖo deriva de um juÃzo formal?