"Espírito vem do latim, spirito, e significa 'força vital'. Espíritos não são sólidos ou líquidos. Talvez sejam gasosos. Não sei. Uns dizem que o espírito fica alojado no cérebro, outros no coração ou mesmo no corpo inteiro. Ninguém sabe ao certo. Ainda assim, por ser depositário das nossas sensações e experiências, o espírito responde pelas nossas propensões, nosso grau de inteligência e o nosso livre-arbítrio."
Deocleciano Ribeiro jamais trabalhou. Filho de um senhor de engenho na Bahia, nos tempos do Brasil Império, sabia levar a vida. Formou-se médico, mas nunca exerceu a profissão, dedicando-se com afinco à vida boêmia e à sedução de mulheres. Não abandonou o ócio e a vida de prazeres nem quando o pai, já moribundo, o obrigou a se casar com uma meia-irmã. Colhido de surpresa pela morte, Deocleciano descobre que há muito o que fazer na vida após a vida.
Rejeitado pela família, Irineu Ribeiro, o filho de Deocleciano, cresceu em meio aos escravos e, com a morte do pai, logo percebeu que só teria futuro longe do engenho do avô. Abre mão de lutar por sua herança e foge de casa para tentar a sorte grande, garimpando na Chapada Diamantina.
Um na Terra, outro no além, ambos enfrentam desafios semelhantes. Enquanto Deocleciano precisa se redimir de vidas pregressas, Irineu busca a redenção valorizando o que o pai sempre desprezou: o trabalho.
De leitura despretensiosa e divertida, este romance de Aydano Roriz transita sem preconceitos e com inteligência por temas como pós-vida, reencarnação e destino, mostrando que esse grande jardim de estrelas que é o Universo está sempre em constante reciclagem e evolução.
Nota do autor
Se você já leu Os Diamantes Não São Eternos, o enredo acima pode lhe parecer familiar. De fato é. Obviamente que, ao escrever O Jardineiro das Estrelas, eu poderia ter criado novos personagens e um outro enredo. Isso é relativamente fácil. Entretanto, depois de quase 20 anos e de ter escrito tantos outros livros, eu me sentia em débito comigo mesmo. Preferi retomar o tema do meu primeiro romance, reescrevendo a mesma história com a profundidade e as cores que enxergo agora. Afinal de contas, em 20 anos a gente passa por umas tantas experiências e pode aprender muito. Gosto de pensar ser este o meu caso. Afora que, neste meio-tempo, a ciência deu um salto extraordinário. Para você ter uma ideia, em 1998, quando eu finalizava a primeira versão do que viria a ser este livro, a comunidade científica só admitia a existência de 9 planetas: os do Sistema Solar. Ponto. Já em abril de 2017, a NASA reconheceu a existência, confirmada, de 3.449 planetas fora do Sistema Solar, 1.284 dos quais em zonas consideradas habitáveis para alguma espécie de vida. Convenhamos: isso torna muito mais palatável e natural a compreensão da infinitude do Universo. No fundo, no fundo, a mensagem que pretendi passar em O Jardineiro das Estrelas. Espero que você aprecie.