Em seu romance de estreia, finalista do Booker Prize de 2020, Brandon Taylor narra o final de semana de um jovem negro e queer que saiu do Alabama, nos Estados Unidos, para estudar com uma prestigiosa bolsa de estudos. Wallace perdeu o pai hรก semanas e nenhum de seus amigos da pรณs-graduaรงรฃo sabe disso. Sem histรณria e identidade como sรณ aqueles que rejeitam o prรณprio passado podem viver, ele mal se move pelos laboratรณrios da universidade, onde faz experimentos com criaturas microscรณpicas, e sente-se incapaz de criar vรญnculos com os colegas. Desde que recebeu uma bolsa, Wallace enxerga nos estudos a oportunidade de escapar do ciclo de pobreza e violรชncia de sua famรญlia. No entanto, na universidade, as pessoas mais prรณximas sรฃo tambรฉm aquelas que mais lhe dรฃo รณdio e tรฉdio. Ele nรฃo entende quando Emma, uma das poucas amigas, se emociona ao saber da morte de seu pai e quando os colegas o abordam com condolรชncias, pressupondo um sofrimento que ele prรณprio acredita nรฃo sentir. O luto, no entanto, desencadeia um desconforto novo em Wallace โ como se a infelicidade fosse expurgada por uma forรงa interna incontrolรกvel, prestes a romper tudo o que foi conquistado. E do desassossego surge o medo: se deixar para trรกs o pouco que construiu para si, o que fica? Se nรฃo pode ter um passado, se nรฃo suporta seu presente, o que resta รฉ ter um futuro โ que nรฃo pode ser abandonado. Mundo real รฉ escrito a partir do olhar de um personagem que, dessensibilizado pela dor, julga-se frio, avesso ร vida, ainda que seja profundamente sensรญvel. Ao abordar temas que precisam ser articulados dentro e fora da literatura โ violรชncia sexual, racismo, homofobia, machismo, transtornos psicolรณgicos, complexidades da vida acadรชmica โ, Brandon Taylor cria um romance de alta beleza formal, num estilo delicado e sutil, que sugere e emociona.