Devaneios ociosos de um desocupado

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Muitas risadas e algumas pitadas de melancolia aguardam o leitor desse pequeno clássico a ser descoberto, escrito pelo inglês Jerome K. Jerome (1854-1927). Best-seller em sua época, porém até hoje inédito no Brasil, o livro foi traduzido com o mesmo coloquialismo espirituoso do original por Jayme da Costa Pinto, autor também do posfácio.

Jerome, que dedica a obra a seu grande companheiro, o cachimbo, vai logo avisando que o ócio – o verdadeiro ócio – não se confunde absolutamente com o cotidiano tedioso de um preguiçoso amador. Ao contrário, dá certo trabalho: "a característica mais surpreendente do ocioso é estar sempre ocupadíssimo." Como em todo melhor humor, a piada começa com o próprio piadista. "O que os leitores hoje em dia buscam em um livro é que sirva para aperfeiçoar, instruir e edificar. Este livro falha nas três frentes." Exagero, naturalmente. Além de provocar gargalhadas, os temas do livro também cativam o leitor pela proximidade com a vida comum. Desde a descrição dos hábitos de cães e gatos, passando por reflexões sobre o amor, a timidez e a vaidade, tudo com precisão cômica e ironia cáustica.

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Jerome K. Jerome, nascido na região de Staffordshire, Inglaterra, quase herdou do pai o nome completo. O do pai era Jerome C. Jerome, um pregador e arquiteto que aproveitava suas preleções para tentar lançar a ideia de construir igrejinhas que ele próprio projetava. A vida confortável derivada dessa atividade econômica foi por água abaixo quando Jerome pai decidiu investir em minas de carvão. Miserável, o futuro escritor ficou órfão aos 15 anos, tendo de ir labutar numa estação ferroviária. Entre os 19 e os 21 anos trabalhou como ator, atividade que não lhe trouxe renda alguma. Começou a enviar textos para publicações jornalísticas, e as constantes recusas o obrigaram a se lançar a uma série de empregos temporários.

A repercussão relativamente boa de um livro de memórias sobre seus anos de teatro foi seguida pelo grande sucesso de Devaneios ociosos de um desocupado. Em 1888, Jerome se casou e a lua de mel foi uma viagem de barco pelo Tâmisa, que o inspirou a escrever Três homens num barco (isso pra não falar do cachorro), um êxito estrondoso que até hoje é publicado frequentemente – às vezes com apelo infanto-juvenil – e rendeu várias adaptações para o cinema e a televisão.

Em 1892, Jerome foi convidado a substituir Rudyard Kipling como editor da revista The Idler (não por acaso, O ocioso). O sucesso literário nunca se repetiu totalmente, e em 1898 o escritor publicou uma sequência de Três homens num barco, intitulada Três homens em passeio. Jerome foi um viajante entusiasmado por toda a Europa e manteve amizade com literatos como Kipling, Conan Doyle e Thomas Hardy. Deixou mais de sessenta obras, entre romances, contos, ensaios e peças de teatro.

Aos 55 anos, voluntariou-se para servir seu país na Primeira Guerra Mundial. Foi rejeitado pelo Exército, mas atuou como motorista de ambulância para as Forças Armadas francesas. Em junho de 1927 sofreu um derrame e morreu no mesmo ano.

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