Quando escritoras mulheres ainda eram exceçÃŖo, Gabrielle Sidonie Colette (1873-1954) foi a mais transgressora delas, conquistando espaço numa sociedade e num mundo literÃĄrio eminentemente masculinos ao desafiar costumes e conceitos de gÃĒnero. Seus primeiros livros, nos quais contava sua prÃŗpria histÃŗria â a de uma menina do interior que descobre o amor e o sexo na Paris cosmopolita â foram roubados pelo marido, que os assinou e ficou com os direitos autorais. Em A vagabunda, romance com fortes tintas autobiogrÃĄficas, a protagonista recÊm-divorciada busca a independÃĒncia afetiva e econômica, trabalhando nos palcos do bas fond parisiense. O livro, o primeiro que ela pôde assinar, abriu o caminho para clÃĄssicos como ChÊri (1920) e Gigi (1944), que inovavam ao tratar de sexo e sociedade do ponto de vista feminino. Colette fez da sua vida uma grande obra: amou homens e mulheres, lutou pela liberdade e a desfrutou como ninguÊm. Considerada por uns a maior entre os escritores franceses do seu tempo, foi sepultada com Honras de Estado, ainda que a Igreja tenha lhe negado um funeral religioso.